A luta pelo reconhecimento das doenças do trabalho
Audiência Pública debate as lesdões
por esforço repetitivo
e as doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho
Jaraguá do Sul – “O que
eu faço agora?” A pergunta, em tom de desespero, foi feita por Maria
Claudete Fuchter ao final da audiência pública realizada dia 22 de
novembro/2007 em Jaraguá do Sul para discutir as doenças do trabalho e
as lesões por esforço repetitivo. Maria Claudete tem 47 anos e faz parte
do chamado exército de mutilados que as fábricas catarinenses produzem.
Costureira em Blumenau, está afastada do trabalho mas não recebe
salário. Tem problemas nos ombros, punhos, tornozelos e artrite e não
consegue se aposentar nem receber qualquer benefício porque os peritos
não reconhecem que as doenças que ela tem foram causadas em função de
anos e anos de costura. A história de Maria Claudete é mais ou menos
parecida com a de outros portadores de doenças profissionais: explorados
até o limite das forças e deixados de lado quando adoecem, buscam ajuda
e justiça nas Associações de Portadores de Doenças Profissionais,
Sindicatos de Trabalhadores, Ministério Público do Trabalho e INSS.
Com base no grande número de
casos de lesionados pelo trabalho em Jaraguá do Sul e região, a
Assembléia Legislativa, através da indicação do deputado estadual e
médico do trabalho Jailson Lima da Silva, realizou audiência pública
para discutir o problema, informar o público sobre o assunto e propor
alternativas. Aproximadamente 300 pessoas comparecerem ao evento,
realizado na SCAR (Sociedade Cultura Artística). Sindicalistas,
portadores de doenças profissionais e demais interessados acompanharam a
audiência pública, que teve como palestrantes profissionais da área da
saúde e da área jurídica, como o juiz do trabalho Alexandre Ramos, que
falou sobre o ambiente de trabalho e os direitos da personalidade, ou
seja, o direito de viver com saúde e satisfação, entre outras coisas.
De acordo com o juiz Alexandre
Ramos, os chamados direitos da personalidade estão sendo valorizados
pelo jurídico e cita como exemplo a indenização por danos morais e
acidente de trabalho. “O empresário pode se aproveitar da força de
trabalho do trabalhador, mas deve se responsabilizar pela saúde dele”,
afirma Ramos. O juiz considera também que os valores indenizatórios são
baixos e esse é um dos motivos que faz com que o empresariado não mude o
comportamento. “É inteligente do ponto de vista empresarial respeitar os
direitos do trabalhador”, alerta o juiz, devido ao grande número de
ações por dano moral.
Para o procurador do
Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina, Egon Koerner Júnior,
também presente à audiência, o que precisa ser feito é exigir mais
fiscalização. Segundo ele, o fiscal do trabalho não prioriza a saúde do
trabalhador e as multas aplicadas são ínfimas e muitas vezes sequer
executadas. “É preciso abrir a caixa preta das empresas no que se refere
a acidentes e doenças do trabalho”, afirma o procurador, alertando para
a necessidade de se implantar o Programa de Saúde do Trabalhador nos
municípios, que funcione com decência e transparência.
Situação em Jaraguá do Sul
Em Jaraguá do Sul, 1.582
pessoas estão cadastrados na APDP (Associação de Portadores de Doenças
Profissionais). Mas este número está longe de representar a realidade em
função da omissão dos empresários, médicos e INSS e da falta de emissão
da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). A APDP existe desde 2003 e
quem atende os doentes é o deputado estadual do PT, Jailson Lima da
Silva. Ele acompanha 547 pacientes. Desse total, a grande maioria é
mulher e não teve CAT emitida pela empresa. Quase 60% dos pacientes
atendidos estão na faixa etária entre 26 a 40 anos, isto é, em plena
fase de produção mas, por serem lesionados, ficam à margem de tudo: sem
trabalho, sem saúde, com muita dor e pouco ou nenhum dinheiro.
O
que diz o INSS
O médico do trabalho e
representante do INSS na audiência, Roberto Ruiz, falou da preocupação
do governo federal em resolver o problema e anunciou a implantação de um
Programa de Reabilitação Ampliado, funcionando em Videira e que promete
bons resultados. O programa foi implantado em julho e o atendimento aos
doentes começou na primeira quinzena de novembro deste ano e, nesse
período, 108 trabalhadores foram avaliados. No total, serão avaliados
até 800 trabalhadores.
A implantação de programa foi
possível devido a um acordo entre o Ministério Público do Trabalho e uma
grande empresa de Videira, que assinou um Termo de Ajuste de Conduta
para reabilitação dos funcionários lesionados no valor de R$ 1,8 milhão.
Para o ano que vem, Ruiz destacou que serão realizados trabalhos
específicos na questão do tempo de espera e qualidade da perícia e
relacionamento humano. Segundo ele, é grande o número de reclamações de
pacientes em relação ao atendimento dos peritos. Nos dias 28 e 29 deste
mês acontece, em Florianópolis, a 1ª Oficina de Peritos e Servidores,
onde se pretende tratar do assunto e encontrar soluções para os
problemas. “A nossa orientação é cumprir a lei”, resume o médico.
A audiência pública também
contou com os palestrantes Paulo Coelho, médico ortopedista e presidente
da Associação de Portadores de Doenças Profissionais de Curitiba, que
falou sobre tratamento; Paulo Gilberto Nitz, que discorreu sobre exames
e diagnóstico; e Zuher Handar, que explicou sobre Nexo Técnico
Epidemiológico. De acordo com Handar, o que se deve buscar é estimular
as empresas a trabalhar a prevenção de doenças e para que isso aconteça,
efetivamente, é necessário mexer no bolso do empresário. “Empresas com
mais acidentes de trabalho pagam mais SAT (Seguro de Acidente de
Trabalho).
22.11.2007