Jaraguá do Sul
– O governador Luiz Henrique da Silveira não encaminha à Assembléia
Legislativa o Projeto de Lei que institui o Piso Estadual de Salário
porque está comprometido com os empresários e ignora os anseios dos
trabalhadores e trabalhadoras catarinenses. Esta foi a conclusão da
Audiência Pública promovida pela Câmara Municipal de Vereadores na
noite do dia 6 e que debateu a implantação do piso mínimo de salário
para Santa Catarina. A Audiência foi uma solicitação da bancada do
PT e reuniu dirigentes sindicais das mais diversas categorias e
trabalhadores de fábrica, em sua maioria. Além de Francisco Alves e
Justino Pereira da Luz, estiveram na audiência os vereadores Dico
Moser, Natália Petri e Jean Leutprecht, além do representante da
Associação Comercial e Industrial (Acijs), Charles Bretzke, o
assessor jurídico da entidade, advogado Jackson Bastos e o diretor
técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e
Estudos Sócio-econômicos), economista José Álvaro Cardoso. A Câmara
de Jaraguá do Sul já havia aprovado moção de apoio do Piso Estadual
no ano passado.
Piso foi criado no
governo FHC
O advogado Jackson
Bastos foi o primeiro a se manifestar, sendo bastante criticado
pelos dirigentes sindicais ao afirmar que o Piso Estadual de Salário
seria inconstitucional. "O piso já existe em oito estados
brasileiros, sendo Santa Catarina o único do sul do país que ainda
não possui o valor diferenciado para o salário mínimo", retificou o
economista do Dieese, José Álvaro Cardoso, lembrando que o piso
estadual foi criado durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O
economista utilizou argumentos técnicos para comprovar que Santa
Catarina pode instituir o Piso. "O crescimento do Brasil vem do
mercado interno, representado pelos investimentos nas empresas e no
consumo das famílias", apontou o economista, destacando a
importância dos sucessivos aumentos do Salário Mínimo para a
economia do país. Há poucos dias o governador do Paraná, Roberto
Requião, reajustou o valor do piso estadual para R$ 629,00 (para SC,
hoje, o valor está em R$ 587,00, na proposta das entidades
sindicais).
O que fazer com R$
587,00?
Para o presidente do
STIVestuário, Gildo Antônio Alves, a argumentação do assessor
jurídico da Acijs e dos sindicatos patronais "demonstra que o
governador Luiz Henrique não recebe os dirigentes sindicais porque
os empresários são contra o Piso Estadual de Salário". Representante
da Fetiesc (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de SC) na
Audiência, Gildo lembrou que "muitas categorias de trabalhadores
terceirizados recebem o salário mínimo e, com o piso estadual,
teriam a chance de conquistar um pouco mais", e questionou: "O que
faz um pai de família ou um empresário com R$ 587,00, depois de
pagar água, luz e as demais despesas mensais, como vai sobreviver?"
Orgulho e frustração
A dirigente da CUT/SC
(Central Única dos Trabalhadores), Adriana Maria Antunes, destacou
seu orgulho em morar em Santa Catarina, "o quinto PIB (Produto
Interno Bruto) do país" e, ao mesmo tempo, sua frustração, "por não
termos aqui o Piso Estadual, que teria impactos social e de
desenvolvimento muito grandes". Representando a senadora Ideli
Salvatti, Dionei Walter da Silva recordou que, quando ainda era
deputado estadual, em 2004, a Assembléia Legislativa aprovou sua
Indicação de apoio ao projeto sobre o Piso Estadual, "partindo de
estudos feitos pelo Dieese". Dionei parabenizou a união das
organizações sindicais em torno do assunto.
Movimento sindical
unido na Campanha
Seis centrais
sindicais, 15 federações e 480 sindicatos de trabalhadores de Santa
Catarina, representando mais de três milhões de trabalhadores e
trabalhadoras catarinenses estão mobilizados na campanha pela
implantação do Piso Estadual de Salário. O coordenador do Dieese/SC,
Ivo Castanheira, também contestou o assessor jurídico da Acijs: "O
piso estadual está previsto na Lei 103/2000, da Constituição
Federal". Castanheira acrescentou que o piso não abrange os
servidores públicos municipais e que nenhum servidor estadual
efetivo recebe menos do que R$ 587,00 por mês. "O PIB do estado, em
2007, cresceu 8,2%, a renda per capita é de R$ 14.539,00,
maior do que nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, e o piso
estadual beneficiaria 400 mil trabalhadores e trabalhadoras",
completou Castanheira.
O objetivo das
entidades sindicais é de que o governador encaminhe o Projeto de Lei
do Piso Estadual à Assembléia Legislativa, "onde faremos a disputa
pela sua aprovação", reiterou o coordenador do Dieese/SC. Para o
presidente da Fecesc (Federação dos Trabalhadores no Comércio de
SC), Francisco Alano, isso não acontece porque o governador tem
lado, o dos patrões. "A Fiesc é contra o projeto porque os pisos
salariais negociados no estado são miseráveis", criticou Alano.
Dedo na ferida
O diretor do
Sindicato dos Metalúrgicos, Narciso da Cruz, denunciou que em
Jaraguá do Sul e Região prevalece a "lei do Gérson, porque os
empresários querem levar vantagem em tudo". Narciso disse que muitas
empresas metalúrgicas pagam o salário mínimo a seus trabalhadores e,
para atingir o piso salarial da categoria, hoje em R$ 550,00,
utilizam o adicional noturno e outros benefícios dos trabalhadores.
Como a Convenção Coletiva de Trabalho dos metalúrgicos prevê pisos
diferenciados a partir dos 50 trabalhadores na empresa, o dirigente
citou exemplo de "patrões que abrem duas empresas no mesmo parque
fabril, somente para não ficar acima do limite e, assim, terem que
pagar o piso maior".
Participe do
abaixo-assinado
"Faça a sua parte e assine", diz o
texto da Campanha de abaixo-assinado promovida pelas entidades
sindicais de SC, com objetivo de coletar pelo menos 50 mil
assinaturas para dar entrada em Projeto de lei de Iniciativa
Popular, na Assembléia Legilativa. A coleta prossegue até 31 de
maio. O Projeto de Lei de iniciativa popular está baseado no Artigo
61 da Constituição Federal, regulamentado pela Lei Federal nº
9.709/1998 e no Artigo 2º da Constituição Estadual, regulamentado
pela Lei Complementar nº 220/2002. Nesta sexta-feira (8), pela
manhã, acontece reunião de avaliação da campanha pelo Piso Estadual
de Salários, no auditório da Fecesc, em Florianópolis.